— Kafka à beira-mar - Haruki Murakami
Meu exemplar e a bela capa brasileira.
Sem exageros, um dos melhores livros que tive a oportunidade de ler. Diálogos, acontecimentos, personagens, locais onde se passa a história, são todos fantásticos. Sem falar dos mistérios sem solução, que tornam o livro mais especial. Aliás como eu já disse aqui no blog antes essa é característica principal do autor japonês Haruki Murakami, uma pitada de surrealismo onde quase pouca coisa é explicada, assim como o a vida não tem resposta para tudo. Mas em Kafka a beira-mar você aceita as respostas não obtidas, os mistérios da histórias que envolve o leitor são tão especiais que você logo se acostuma a não ter respostas, é algo que até agora só Murakami faz, não existe clichês em seus livros.
Outro ponto positivo foi que o livro me ajudou muito em uma fase difícil da minha vida. Murakami coloca você nos diálogos dos personagens, que parecem que sabe do momento difícil que você está passando. Vários são os trechos que me ajudaram a erguer a cabeça e seguir em frente, posso dizer que o livro meio que me acolheu, sempre me sentia confortável lendo.
" Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha. As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe no seu íntimo. Portanto, o único curso que lhe resta é se conformar e corajosamente por um pé dentro dela, tapar os olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la passo a passo até imergir do outro lado. É muito provável que lá dentro não haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O que há são pequenos grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando vertiginosamente no espaço. Imagine uma tempestade de areia desse jeito. (…) E você vai atravessá-la, claro. Falo da tempestade. Dessa tempestade violenta, metafísica e simbólica. Metafísica e simbólica, mas ao mesmo tempo cortante como mil navalhas, ela raga a carne sem piedade. Muita gente perdeu o sangue dentro dela, e você mesmo perderá o seu. Sangue rubro e morno. E você vai apará-lo com suas próprias mãos em concha. O seu sangue e também o de outras pessoas. E, quando a tempestade passar, na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver. Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou. Uma coisa porém é certa: ao emergir do outro lado da tempestade, você já não será o mesmo de quando nela entrou. Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia."
para minha surpresa encontrei a música que dá origem a tudo.
Outro ponto positivo foi que o livro me ajudou muito em uma fase difícil da minha vida. Murakami coloca você nos diálogos dos personagens, que parecem que sabe do momento difícil que você está passando. Vários são os trechos que me ajudaram a erguer a cabeça e seguir em frente, posso dizer que o livro meio que me acolheu, sempre me sentia confortável lendo.
" Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha. As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe no seu íntimo. Portanto, o único curso que lhe resta é se conformar e corajosamente por um pé dentro dela, tapar os olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la passo a passo até imergir do outro lado. É muito provável que lá dentro não haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O que há são pequenos grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando vertiginosamente no espaço. Imagine uma tempestade de areia desse jeito. (…) E você vai atravessá-la, claro. Falo da tempestade. Dessa tempestade violenta, metafísica e simbólica. Metafísica e simbólica, mas ao mesmo tempo cortante como mil navalhas, ela raga a carne sem piedade. Muita gente perdeu o sangue dentro dela, e você mesmo perderá o seu. Sangue rubro e morno. E você vai apará-lo com suas próprias mãos em concha. O seu sangue e também o de outras pessoas. E, quando a tempestade passar, na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver. Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou. Uma coisa porém é certa: ao emergir do outro lado da tempestade, você já não será o mesmo de quando nela entrou. Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia."
para minha surpresa encontrei a música que dá origem a tudo.
Me empolguei demais com a leitura, passei madrugadas devorando cada pagina, e sentindo tudo que a leitura de Murakami proporciona, a capacidade dele levar o leitor para dentro do livro é incrível. Como sempre uma diversidade cultural rica nos diálogos de seus personagens envolvendo a literatura, cinema e a música, do rock a música clássica com o Trio Archduke de Beethoven.
Kafka Tamura de 15 anos, um dos personagens principais foge de casa, para tentar escapar de um terrível profecia dita pelo seu pai “Um dia você irá matar o seu pai e irá dormir com sua mãe.”, e por ironia o fato que motiva a fuga é encontrar sua irmã e mãe que ele nunca viu (mesmo sabendo da profecia que o aguarda, Kafka Tamura diz que vai encontrar sua mãe e vai fazer de tudo para não cair na profecia do seu pai). Ele tem como companheiro de fuga um corvo chamado "Menino-corvo" que é como se fosse uma subconsciência. Nessa sua jornada Kafka faz uma grande amizade com Sakura e um cara chamado Oshima, ambos vão ter uma grande importância na sua vida.
"Sou livre, penso. Fecho os olhos e considero
por instantes a ideia de liberdade. Não consigo entender direito o que
significa ser livre. Entendo apenas que, neste momento, estou sozinho.
Estou sozinho em terra estranha. Como um explorador que perdeu bússola e
mapa. Ser livre é isto? Não sei. Desisto de pensar." Kafka à Beira-mar- Haruki Murakami
O outro personagem é Nakata, o personagem mais querido do livro. Nakata é um idoso, que quando ainda criança sofre um acidente misterioso e desde então perdeu todas suas memorias, é analfabeto, e tem uma maneira peculiar de falar, exemplo: "Nakata não tem opinião, mas Nakata gosta de enguias" (é como Hodor de Game of Thrones, porém Nakata não tem um vocabulário de apenas uma palavra), além disso vive excluído da sociedade com apenas um auxilio do governo. Mas Nakata tem um dom especial que ninguém tem, ele fala com gatos, é com esse dom que ele ganha um dinheiro extra encontrando gatos desaparecidos. É um personagem especial, livre de todos os males e escrotidão que existe na nossa sociedade, só existe pureza nesse gentil velhinho.
Os diálogos dos gatos com Nakata são um dos melhores trechos do livros, é um prazer ler a conversa entre um gato e um idoso. Desde então enxergo os gatos de uma maneira diferente, e passei a ter mais respeito e simpatia por eles, coisa que eu não tinha. Além disso o velhihno tem a impressionante façanha surrealista de fazer chover peixes e sanguessugas. Nakata logo conhece um parceiro para sua missão na história, (não..não é um bichano rsrs). É um caminhoneiro que vai ajuda-lo na sua jornada.
A leitura é recomendadíssima, ler esse livro foi uma grande experiência para mim, não posso contar por quais motivos se não vou contar spoilers do livro. Mas posso falar que conhecer a vida dos grandes compositores clássicos, livros como Édipo e o lugares que o autor cita não tem preço, alias tem preço sim, comprei o livro em um promoção por apenas 36 reais, seu preço é 70 reais.
"Existe um ponto chamado de toilet bowl no Havaí, onde a corrente vazante se choca com a enchente e produz um enorme redemoinho. Seu movimento se assemelha ao da descarga de uma latrina. E, se você cai da prancha e é arrastado até o fundo desse redemoinho, fica muito difícil aflorar outra vez. Dependendo das condições do mar, pode até ser que você nunca mais consiga. Apesar de tudo, você tem que ficar quieto lá no fundo e deixar que as ondas o massacrem. Não adianta você se assustar, debate, vai apenas esgotar suas forças. Acho difícil passar por experiência mais apavorante. Mas, se você não domina esse tipo de pavor, nunca será um bom surfista. Você tem de se ver em frente a frente com a morte, conhece-la e vencê-la. no fundo do redemoinho, você pensa em muitas coisas, e num certo sentido, faz amizade com a morte, conversa com ela de maneira franca."
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