quarta-feira, 11 de junho de 2014

Bem-vindo ao mundo real.... parte 1

São vários as pessoas que admiro e possuem todo meu respeito no mundo dos livros brasileiros. Mas é verdade que estou começando minha caminhada na literatura brasileira agora, por isso conheço poucos (Machado de Assis e Érico Veríssimo são dois mestres por exemplo). Sei que é uma vergonha falar isso, mas agora só li o livro de Tonny Belloto e os dois livros de Caco Barcelos, não que os autores sejam ruim, pelo contrario adorei ler Bellini e a Esfinge de Belloto (virou até filme protagonizado por Fábio Assunção). Caco Barcelos nem preciso falar, é "o cara" do jornalismo brasileiro, o homi é foda. Sinto envergonhado apenas pela quantidade de livros brasileiros que li ser pequena.

Enfim, vamos para o que interessa. Não vou falar sobre autor-jornalista e sua carreira, e sim dos seus livros, são os únicos livros que me proporcionaram ter a sensação de levar vários socos no estômago e ter dificuldades para se recuperar, vários momentos de profunda tristeza, reflexão sobre o mundo, e como consequência enxerga-lo de outra maneira.. Em ROTA 66 por exemplo, não espere momentos de alegria, eles são poucos e estão  nos sonhos das familias  e nas realizações das vitimas que morreram jovem, tudo contado pelos familiares. Caco coloca o leitor no mundo real da pobreza, não é aquela pobreza  que é mostrada pela mídia onde tudo ocorre a mil defeitos e o importante é ser feliz, não aquele pobreza que há anos é motivo de piada de muitos humoristas, não é aquela pobreza que é amostrada através das favelas para os gringos. É uma pobreza onde o sistema tem o poder de fazer as coisas mais horríveis que se possa imaginar, até os dias  hoje, toda vez faço a pergunta imbecil "porque nesse maldito mundo de merda, ainda pessoas existe assim. isso não pode ser verdade". Mas é sim meu caro,  boa parte de tudo de ruim que acontece, é sua, minha...e de toda sociedade. Começa por quem você elege.

Rota 66

O primeiro livro de Caco Barcelos foi Rota 66, sobre o lado escuro de um pequeno grupo especial da policia de São Paulo, a ROTA. Que tinha um vicio pela morte, o sangue e o sofrimento, onde o cérebro era preenchido  somente pela frieza e pelo poder do regime da ditadura. Caco teve a coragem e persistência de investigar caso por caso, passando vários anos no necrotério da cidade de São Paulo investigando os casos, cadáveres e as papeladas arquivadas, e depois de algum tempo conseguiu um ajudante. Tudo que provasse a covardia e o assassinato em massa da ROTA que fazia uma verdadeira seleção artificial. Quase todos os mortos eram negros ou pardos, além de serem inocentes, apenas trabalhadores e estudantes que voltavam de sua simples e árdua rotina, a ROTA não matava por defesa como eles falavam, e sim por puro prazer.

Caco Barcelos também contou com ajuda dos familiares das vitimas e conseguiu dados e mais dados para confirmar esse triste acontecimento, onde se derramou mais sangue do que muitas guerras que aconteceram na historia. No geral o livro é super recomendado. Apesar de ser triste e revoltante, retrata o lado escuro de um pequeno grupo da PM paulista que poucos conhecem, Rota 66 é um excelente trabalho de jornalismo investigativo feito por Caco Barcellos. Por isso sempre me inspiro na sua determinação, uma coisa rara não só no Brasil, mas também no mundo.

As vezes penso, e se Caco Barcellos  tivesse desistido assim que entrou no necrotério e viu aqueles pedaços de corpos em conservação nos vidros, o cheiro insuportável, falta de ajuda, cadáveres e mais cadáveres em sua volta. Em relação a isso, ainda bem que ficamos só no "e se..."

Breve a parte falando de outro livro de Caco, "Abusado" a história do traficante Marcinho VP

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