quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Resenha: Sagrado, de Dennis Lehane

"A dor é carnívora….."

 Sagrado é o terceiro livro do casal de detetives Kenzie e Gennaro. Dessa vez não tem nenhum serial killer, politico pedofilo ou uma guerra entre gangues rivais. O principal inimigo dessa vez é algo que vai surpreender o leitor na metade da leitura,  e vindo de Lehane isso não é nenhuma novidade. Achei que Sagrado foi o livro com o maior número de surpresas e reviravoltas.

Uma curiosidade é que a série é composta por 6 livros, mas o primeiro livro que comecei a ler foi justamente Sagrado, mas não tive nenhum problema. Não é necessário ler os outros dois para se situar, teve alguns spoilers que passaram despercebidos por mim. Por exemplo,  em "Sagrado" Kenzie  comenta do sobre o final dramático de Darkness, Take My Hand ( Apelo as Trevas) revelando quem era o serial killer. Mas faz tanto tempo que li, que eu nem lembrava disso, foi só após a releitura que fui percebendo os poucos spoilers que o livro tinha. 



Kenzie e Angie são "contratados",  ou melhor são levados a força por dois caras que trabalham para  um milionário chamado Trevor Stone, ele pedi para o casal de detetives encontrarem sua filha Desiree que está desaparecida. E é durante as investigações que a leitura começa a ficar mais interessante e prazerosa, quando você pensa que Kenzie está perto de mais uma solução, aparece mais perguntas difíceis e sem respostas, verdadeiros demônios na mente dele. Lehane leva o leitor para fora de Boston, nas regiões da Florida, mais precisamente em Tampa; sol quente, Angie com roupas de banho, praias, entre outras que caracterizam uma cidade litorânea. Fugindo do tempo frio de Boston. Nas versões originais dos EUA se percebe a paisagem quente da Florida, o lindo por-do-sol e as palmeiras reais que são características daquelas regiões.










"A dor não é carnívora...."


=)

Angie wasn’t just my partner. She wasn’t just my best friend. And she wasn’t just my lover. She was all those things, sure, but she was far more. Ever since we made love the other night, it had begun to dawn on me that what lay between us—what in all probability had lain between us since we were children—wasn’t just special; it was sacred.
Angie was where most of me began and all of me ended.
Without her—without knowing where she was or how she was—I wasn’t merely half my usual self; I was a cipher.
O casal mais implacável de todo universo...

Desiree é uma das mais belas mulheres que eu vi um autor descrever, e ao descreve-la Lehane coloca ela ali de frente ao leitor, é uma experiência rara. Para se ter uma ideia, por vários momentos Kenzie é fisgado pelo seu charme. Mas em nenhum momento o detetive se esquece de seu amor pela companheira trabalho Angie, a química dos dois continua a mesma. Angie odiando as coisas que Kenzie gostas e vice versa.  Deixo aqui o trecho que ele perfeitamente descreve Desiree:

"E meu Deus, como era bonita. Eu namorei muitas mulheres bonitas em minha vida. Mulheres que julgavam os próprios méritos pela aparência física, porque o mundo as julgava por esse mesmo padrão. Esbeltas ou voluptuosas, altas ou baixas, mulheres lindas de doer que faziam os homens à sua volta perderem a fala.

Mas nenhuma chegava aos pés de Desiree. Sua perfeição física era palpável. Sua pele parecia recobrir ossos que eram ao mesmo tempo delicados e pronunciados. Seus seios, livres de sutiã, avultavam contra o fino tecido do vestido cada vez que ela inspirava. O próprio vestido, uma coisinha simples de algodão cor de pêssego, talhado para ser funcional e folgado, não podia fazer grande coisa para esconder as linhas vigorosas de seu abdome nem as linhas graciosas e firmes de suas coxas.

Seus olhos de jade cintilavam, e pareciam ainda mais brilhantes por causa do nervosismo e do cálido tom dourado do pôr-do-sol que sua pele refletia. Ela não ignorava, porém, o efeito que produzia. Durante toda a nossa conversa, seu olhar mal se dirigia a Angie. Mas quando falava comigo, mergulhava seus olhos nos meus, inclinando-se em minha direção de forma quase imperceptível."

Para completar essa descrição, só faltava Desiree está fumando um cigarro e com aquele olhar que mata qualquer homem.

extrarouge:

That look…


"O ornamento da beleza, escreveu Shakespeare, é suspeito. Ele tinha razão. Mas a própria beleza, sem adornos e sem afetação, é sagrada, digna de respeito, de toda nossa reverencia e lealdade.“

Enfim não vou me prolongar muito, até porque o conteudo do livro não permite (vai ser muitos spoilers). Achei o livro muito bom, recomendo a leitura. O livro não chega ao mesmo nível dois dois primeiros da série. Em termo do impacto das revelações ainda perde para o quarto livro. "Gone, Baby, Gone".

Sim meus caros, quando acaba o livro fica aquela dúvida, e a dor... ela é ou não é carnívora. É  apenas mais um sentimento que nos devora, ou apenas algo físico. Fica a pergunta, mas eu acho que a dor em certos momentos é física em certos momentos é algo sentimental, e eu acho que a sentimental machuca mais.

Saudades Desiree (ou não hehe), sua deaaaba!










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